Uma conversa sobre não comer animais

Em março eu completei um ano de vegetarianismo. De lá pra cá eu apendi muita coisa e um episódio que aconteceu hoje pela manhã me fez ter vontade de falar sobre isso. Para contextualizar, a rotina na escola anda corrida, então eu descuidei da minha alimentação, e tive uns episódios de fraqueza. Hoje eu passei mal e tive que ir para o hospital, e lá o médico me falou umas besteiras que já estou acostumada a ouvir, como me perguntar se eu não tinha pena das cenouras que eram arrancadas da terra pra que eu possa comer ( tive a impressão de que foi para me testar). A questão é que as pessoas geralmente são muito desinformadas sobre esse assunto, o que faz com que pareça uma coisa extremamente cara, o que de forma alguma é verdade. Ser vegano/vegetariano pode ser elitista, pois as  informações que geralmente chegam até nós são distorcidas, então é de se esperar que uma pessoa de poucas condições acabe achando que isso é totalmente fora da sua realidade, mesmo que comprar carne seja muito mais caro do que comprar verdura. Tenho consciência que a indústria cobra caro por produtos vegan. O capitalismo se infiltra até nas causas mais nobres (como feminismo e movimento negro) então temos que lidar com isso e pôr na balança o que nos cabe (comer coisas 100% naturais é uma boa opção).

Ser vegano/vegetariano é escolher não compactuar com o sofrimento animal só pelo prazer de se alimentar deles, e cada um faz o possível dentro de sua realidade. Pra mim, por exemplo, seria muito difícil me tornar vegana de uma hora pra outra, visto que moro em cidade interiorana e aqui é muito difícil encontrar coisas que possam substituir o que somos acostumados a comer em eventos sociais, por exemplo. Sem contar que isso não se relaciona só a comida, e sim a qualquer produto que envolva a exploração de um bichinho. Eu sou menor de idade, então submeter minha família a isso seria inviável, visto que nenhum deles segue essa ideologia. Deixei de comer carne e ovo, mas não consigo ainda extinguir da minha vida um produto testado em animais. Sou menos engajada na causa por isso? Não.

Infelizmente o ato de consumir carne virou algo cultural , então é normal que a maioria das pessoas não saiba que na verdade o ser humano não precisa disso  para sobreviver ( sendo inviável uma dieta somente à base desse alimento, como acontece com os animais não racionais), que os países que mais consomem leite tem alto índice de osteoporose e que consumir ovo pode ser tão ruim quanto fumar cigarros. Nada disso chega até nós porque a industria não quer que saibamos disso. A indústria quer que consumamos mais e mais, sem se importar com os impactos gerados na natureza e na própria população. A indústria não quer que saibamos do sofrimento a que os animais são submetidos para que esses alimentos cheguem até nossas mesas, ou que se soubermos, não nos importemos com isso, já que temos a mania de achar que o ser humano tem mais direito de viver do que outras espécies. 

Sei que não posso mudar o mundo e que apesar de ter abolido muitas coisas da minha vida os animais continuam sofrendo, mas se cada um fizer um pouquinho as coisas pouco a pouco começam a mudar. Se hoje as mulheres tem direito ao voto, foi porque em determinado momento nossas antepassadas lutaram por isso, nos possibilitando hoje lutar por outras pautas. Se hoje a mulher negra tem consciência de seu valor e se empodera é porque no passado outras negras se questionaram sobre isso. Vejo que temos a mania de viver sem nunca questionar nossos hábitos, e isso é terrível. O tempo passa e continuamos a agir no automático porque uma vez disseram que isso ou aquilo é o certo. Questionem mais,  pois do contrário o progresso não acontece